Instituições de diálogo social “devem ser mais inclusivas”, apela OIT

OIT alerta que mulheres, jovens e informais estão sub-representados nas instituições de diálogo social dos vários países analisados, o que tem efeitos nas preocupações abordadas.

As instituições nacionais de diálogo social têm conseguido ser eficazes, mas há ainda margem para melhorias. Num novo relatório publicado esta quarta-feira, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) salienta que é preciso que esses órgãos sejam mais inclusivos, nomeadamente no que diz respeito à participação de mulheres, jovens e de grupos considerados marginalizados, como os trabalhadores informais.

“Um dos motivos de preocupação é a inclusão nas instituições nacionais de diálogo social e os fossos que existem no que diz respeito a grupos sub-representados, como mulheres, jovens e trabalhadores informais”, lê-se no comunicado que acompanha o relatório “Social dialogue report 2024”, que foi conhecido esta manhã.

No que diz respeito à participação feminina, três em cada cinco membros de sindicatos ouvidos pela OIT e metade dos membros de associações empresariais indicaram que as mulheres têm uma participação limitada ou inexistente nos cargos de decisão destes órgãos. Já quanto aos trabalhadores informais, a OIT realça que a seria importante reforçar a participação destas pessoas.

"Os jovens também estão sub-representados nas instituições nacionais de diálogo social, com as suas preocupações a serem amplamente ignoradas.”

OIT

Por outro lado, o relatório mostra que os jovens estão sub-representados nestas instituições, o que significa que as suas preocupações podem não estar a merecer a atenção devida. “Um inquérito da OIT mostrou que os jovens estão sub-representados nas instituições nacionais de diálogo social, com as suas preocupações a serem largamente ignoradas”, lê-se.

Quanto aos temas em que estes órgãos estão a conseguir ter resultados, a OIT nota que os parceiros sociais têm uma opinião “muito positiva” quanto à sua relevância relativamente aos direitos do trabalho e da proteção social, mas nem tanto no que diz respeito ao combate à discriminação e desigualdade.

“Um indicador chave da eficácia das instituições nacionais de diálogo social é o seu papel na gestão de crises”, acrescenta a OIT. E, enquanto a maioria dos parceiros sociais concordam que há resultados positivos no que diz respeito ao apoio ao emprego e desemprego, ao custo de vida e a problemas de saúde, nas alterações climáticas, na habitação e na energia a influência dos órgãos em causa tem sido menos significativa.

OIT destaca acordos em Portugal

No relatório publicado esta manhã, a OIT sublinha que o diálogo social é fundamental para moldar e implementar “normas que promovam o trabalho com direitos”, sendo que várias revisões das leis do trabalho dos países analisados tiveram por base consultas à Concertação Social.

“Por exemplo, um acordo na comissão permanente da Concertação Social de Portugal levou a uma emenda ao Código do Trabalho, com vista a reduzir o trabalho precário e promover a negociação coletiva”, identifica a OIT, referindo-se ao entendimento que serviu de base à revisão legislativa de 2019.

A OIT escolhe, portanto, não mencionar a chamada Agenda do Trabalho Digno, que entrou em vigor mais recentemente, em 2023, e gerou polémica na Concertação Social, tendo mesmo levado as confederações patronais a suspenderem temporariamente a sua participação nesse órgão.

Ainda assim, a OIT destaca o acordo de rendimentos assinado pelo Governo de António Costa com as quatro confederações e a UGT, sinalizando que é um exemplo de como pactos deste tipo podem responder à crise do custo de vida. Não tece, porém, elogios específicos a este entendimento, que, entretanto, foi sucedido por um acordo de salários e crescimento económico assinado pelo Governo de Luís Montenegro com as confederações empresariais e a UGT, em outubro deste ano.

Notícia atualizada às 17h12

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