Industriais com comitiva reforçada em Milão para descalçar abrandamento no exterior

Nos próximos dias, 75 empresas portuguesas do setor do calçado, que exporta 90% da sua produção, rumam a Milão para tentarem dar a volta a dois anos de quebra nas exportações.

A difícil conjuntura internacional, nomeadamente na Alemanha, França e nos Países Baixos, os principais mercados do setor do calçado, continua a pesar nas vendas da indústria de calçado no exterior, com as exportações a voltarem a cair para 1.724 milhões de euros, em 2024. Com um ano pela frente que se antecipa igualmente desafiante, 75 empresários portugueses — a maior comitiva dos últimos quatro anos — rumam a Milão para promover os seus sapatos lá fora, a velhos e novos clientes.

Com 90% da produção nacional destinada à exportação, para 174 países nos cinco continentesBelize foi o mais recente destino adicionado aos mercados para onde são vendidos sapatos made in Portugal — , a indústria tem previstas ações comerciais em 16 mercados distintos, com o setor atento a novas oportunidades e com um orçamento de nove milhões para gastar nestas missões empresariais e campanhas de promoção.

Com mais de 90% das exportações concentradas nos continentes europeu e americano, a associação industrial do setor (APICCAPS), que identificou no seu plano estratégico, apresentado em novembro de 2022, 145 cidades prioritárias, mantém uma busca constante por novos mercados. “Há outros mercados que vamos estudando e outros com abordagens comerciais”, aponta Paulo Gonçalves.

Segundo afiança o porta-voz da APICCAPS ao ECO, “há três mercados que vão ser importantes para a indústria num curto espaço de tempo: a Coreia é um mercado muito interessante; os países árabes, como os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita; e o Japão, que já foi um mercado muito bom mas deixou de o ser por via do iene”. No continente europeu, onde a indústria tem os seus maiores mercados, há oportunidades a explorar no Leste europeu, em países como a Hungria ou a Polónia.

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Olhando para os últimos números, Paulo Gonçalves realça que, apesar da quebra de 5,4% no último ano em valor nas exportações, “aumentámos em quantidade. Isto mostra que estamos a diversificar a oferta”, para lá do calçado de couro, de maior qualidade, mas com custos de produção significativamente mais elevados. “Estamos a explorar outros segmentos de mercado. Há consumidores que preferem produtos alternativos ao couro”, assume Paulo Gonçalves. Esta mudança no consumo explica a descida dos valores de exportação, apesar do volume de produção ter crescido 3,9% para 68 milhões de pares.

Há três mercados que vão ser importantes para a indústria num curto espaço de tempo: a Coreia é um mercado muito interessante; os países árabes, como os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita; e o Japão, que já foi um mercado muito bom mas deixou de o ser por via do iene.

Paulo Gonçalves

Porta-voz da associação industrial do calçado APICCAPS

As exportações de couro, com preços mais altos, caíram 6% para 40 milhões de pares, ao passo que a venda de calçado de outros materiais (impermeável, plástico ou têxtil) subiram 22,6% para 28 milhões de pares.

Outra tendência reconhecida pelo porta-voz da associação do calçado é que algumas empresas têm vindo a recorrer a uma estratégia de subcontratação no exterior, a exemplo do que se faz noutros países, mantendo a promoção da marca.

Europa pesa mais, EUA lideram crescimento

Os mercados europeus continuam a absorver a maior fatia das exportações, com a Alemanha a liderar, com exportações de 391 milhões de euros, seguida pela França e pelos Países Baixos, com 348 e 197 milhões, respetivamente. Já o Reino Unido foi o destino de três milhões de pares de sapatos portugueses, no valor de 113 milhões. A fechar o top 5 estão os EUA, onde as vendas cresceram 25% nos últimos três anos para dois milhões de pares, ou 97 milhões de euros.

Os EUA foram mesmo o mercado onde o setor apresentou a maior evolução nos últimos anos, com um crescimento de 109% na última década, o que já levou a associação a dizer que o setor está “apreensivo” face à potencial imposição de tarifas pelos EUA às transações com a União Europeia, mas não tenciona “deixar cair” este mercado estratégico.

Paulo Gonçalves, diretor de comunicação da APICCAPS, antecipa que 2025 seja um ano de consolidação.

Além da ameaça de tarifas aduaneiras nos EUA, Paulo Gonçalves reconhece que “vivemos um período de grande incerteza. Os nossos principais mercados estão num momento complexo, nomeadamente França e Alemanha”. Ainda assim, o diretor de comunicação da APICCAPS vê motivos para olhar para o futuro com alguma esperança, depois das exportações de calçado já terem fechado o último trimestre do ano com um crescimento de 14,3%. “Temos a expectativa que 2025 já seja um ano de consolidação”, refere.

O consumo mundial do calçado deverá crescer 8,4% em 2025, de acordo com o World Footwear Survey. Ainda assim, segundo as mesmas previsões, a Europa, o mercado de referência para o calçado português, deverá estagnar este ano.

Nas palavras do presidente da APICCAPS, Luís Onofre, “todos os indicadores apontam para que o ano de 2025 seja um ano muito exigente, na medida em que as principais economias mundiais continuam a dar sinais de forte estagnação. São muitos os sinais de incerteza”, lamenta. “Do nosso lado”, continuou, “temos de continuar o esforço de procurar novos mercados, pois só com uma atitude proativa no desenvolvimento de novos produtos e conquista de novos clientes poderemos atenuar um momento conjuntural particularmente complexo”.

Comitiva para Itália traz um regresso e duas estreias

De malas aviadas estão 75 empresas do setor do calçado, que partem rumo a Itália, mais concretamente para Milão onde decorre, a partir deste domingo, dia 23 de fevereiro, a Micam (calçado), a Lineapelle (componentes para calçado e marroquinaria) e a Mipel (acessório de pele), feiras que no ano passado receberam 40.950 visitantes profissionais de 140 países.

Com uma presença reforçada, a APICCAPS destaca que, depois de dois anos de forte contenção, “é tempo do setor de calçado estreitar novas oportunidades em 2025“.

Das 75 empresas que estarão em Milão para participar em vários eventos ao longo dos próximos dias, 43 empresas — mais 10% que no ano passado e o maior número dos últimos quatro anos — participa na MICAM e no MIPEL e outras 32 vão representar Portugal na Lineapelle, o que representa um crescimento da delegação nacional de 6,7%.

De regresso àquela que é uma das maiores montras do calçado, após um período sem participar na feira, a empresa de Guimarães Paradigma marca a sua presença em Milão. Já na feira de componentes para calçado e marroquinaria, há dois novos stands nacionais: JP Super Soles e Itaflex.

Localizada em Castelo de Paiva, a JP Super Soles é uma empresa de fabrico próprio de solas para calçado e conta com 150 colaboradores. Com presença em 20 países, a companhia tem capacidade para produzir três milhões de solas por ano. Fundada em 1980, a Itaflex também produz solas para calçado, contando com 70 colaboradores e capacidade de produção instalada de 10.000 pares de solas por dia.

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