Mercadona já ganha dinheiro em Portugal. “Estamos muito satisfeitos”, assume Juan Roig
Ao fim de oito anos e mais de mil milhões de euros investidos, retalhista espanhola lucra pela primeira vez com a operação no mercado português. Vendas em 60 lojas atingiram 1.778 milhões em 2024.
Oito anos depois de anunciar a entrada em Portugal e cinco anos após abrir a primeira loja no país, a operação da Mercadona no mercado nacional atinge pela primeira vez resultados positivos: 7 milhões de euros. Em 2024, a retalhista de origem espanhola registou vendas de 1.778 milhões de euros deste lado da fronteira, mais 27% do que no ano anterior.
“Pela primeira vez, Portugal foi rentável. Isso também beneficiou os resultados globais. Agora, Portugal começou a somar [aos lucros do grupo] e estamos muito satisfeitos”, salientou o presidente Juan Roig, durante a apresentação de resultados, em Valência (Espanha).
Embora os sete milhões de euros lucrados em 2024 tenham ficado “abaixo do esperado”, o empresário repetiu estar “muito satisfeito” com a Portugal. Por outro lado, prometeu “continuar a desenvolver novos supermercados, entrar no distrito de Lisboa de forma mais ativa e ir mais para sul, até Faro, nos próximos anos”.
Agora que a Mercadona já tem “as lojas consolidadas e todas são muito rentáveis”, no próximo ano prevê “certamente dobrar” os lucros para 14 milhões de euros no mercado português. Para a abertura de 10 novas lojas e a “compra de mais alguns terrenos” tem reservado para Portugal um envelope financeiro de cerca de 157 milhões de euros para 2025.
Pela primeira vez, Portugal foi rentável. Isso também beneficiou os resultados globais. Agora, Portugal começou a somar [aos lucros do grupo] e estamos muito satisfeitos.
Atualmente com 60 supermercados de portas abertas em Portugal – tem ainda dois blocos logísticos, na Póvoa de Varzim e Almeirim –, Roig admitiu que a empresa precisa de “melhorar o sortido e a relação com os fornecedores portugueses”. Que, por sua vez, têm de perceber que a entrada nessa lista de compras da Mercadona “significa uma série de prioridades distintas”.
“Faz falta sermos mais portugueses e termos um [cabaz de produtos] mais português. É muito mais fácil tomar a decisão de ir para Portugal do que fazer-se português. Isso custa muitíssimo”, apontou o empresário valenciano. Em 2024, a retalhista diz ter comprado 1.400 milhões de euros aos fornecedores portugueses. Desde 2019, quando abriu portas em Portugal, as compras no país ascenderam a 4.450 milhões.
‘Contributo fiscal’ de 237 milhões em Portugal
Contabilizando já ter investido mais de mil milhões de euros em Portugal, dos quais 219 milhões só no ano passado, segundo os dados divulgados esta terça-feira, a sociedade portuguesa Irmãdona Supermercados, que tem sede em Vila Nova de Gaia, “contribuiu com 237 milhões de euros em impostos” em Portugal durante o ano passado.
Com perto de 7.000 funcionários em Portugal, dos quais 1.700 foram contratados em 2024, a Mercadona vai abrir mais uma dezena de supermercados em 2025. Chegará ao final deste ano com uma rede de 70 espaços espalhados por 12 distritos do território nacional, com destaque para a chegada nos próximos meses à cidade de Lisboa – e logo com duas aberturas.
Um dos projetos, já em construção num terreno com 5.000 metros quadrados na rua Hermínio da Palma Inácio, na freguesia de Santa Clara (Alta de Lisboa), inclui uma área de escritórios para albergar a equipa com cerca de 100 pessoas em funções como recursos humanos, logística e obras. A outra unidade na capital portuguesa abrirá na Quinta do Lambert, na freguesia do Lumiar.
Loures (Santa Iria de Azóia e Frielas), Penafiel (Milhundos), Fafe, Leiria (Vale Sepal), Matosinhos (São Gens), Palmela e Porto (Amial) são as restantes localizações previstas. Para dar resposta ao plano de expansão para 2025 já se encontra a recrutar para diversas funções, tendo atualmente vagas abertas sobretudo para operadores de supermercado, auxiliares de manutenção e operadores de armazém.
Em janeiro, a empresa aplicou aumentos de 8,5% a todos os trabalhadores, fixando o salário de entrada em 14.963,90 euros brutos anuais. Já por via da distribuição dos resultados, a 1 de março deste ano, em média, cada trabalhador em Portugal com mais de quatro anos de antiguidade recebeu um cheque de “cerca de 4.500 euros brutos em remuneração variável, o correspondente a três mensalidades”.

Foi a 2 de julho de 2019 em Canidelo, no concelho de Vila Nova de Gaia, que o grupo retalhista sediado em Valência abriu o primeiro supermercado em Portugal. É a primeira experiência de internacionalização da empresa que lidera o retalho alimentar em Espanha.
É também na margem sul do Douro que a Mercadona tem a sede da operação portuguesa, onde a retalhista instalou um hub de desenvolvimento de software. Esta nova estrutura foi integrada na Mercadona IT, responsável pela digitalização da empresa de Valência e que conta com mais de 1.000 profissionais.
Economia ibérica puxa por resultados “espetaculares”
Esta manhã, a conferência de imprensa anual começou com Juan Roig a emocionar-se ao falar num “ano duro”, em referência aos incêndios no Norte e Centro de Portugal que chegaram a ameaçar o bloco logístico da Póvoa de Varzim, mas sobretudo à tragédia da tempestade Dana, que afetou mais de duas dezenas de lojas e outras instalações do grupo na região de Valência.
No que toca aos resultados globais, o empresário resumiu que “2024 foi um ano espetacular” “Estamos em dois países – tanto Espanha como Portugal – em que as economias estão a funcionar muito bem e que recebem milhões de turistas. Há que cuidar desse setor”, avisou, mesmo reconhecendo as implicações negativas que o turismo tem para os residentes.

A líder de mercado em Espanha — a quota aumentou 0,7 pontos percentuais no ano passado, atingindo os 28,2% — tinha no final do ano passado um total de 1.674 supermercados, em resultado de 42 aberturas e 49 encerramentos. Emprega agora 743.700 pessoas, após ter criado mais 6.000 novos postos de trabalho em 2024.
Entre Espanha e Portugal, o grupo faturou 38.835 milhões de euros, mais 9% do que no ano anterior. Equivale a 2,1% o PIB espanhol, equiparou Roig. No mesmo encontro com jornalistas, o fundador da companhia – com o património pessoal está a construir uma mega arena em Valência para desportos, música e eventos corporativos, a estrear em setembro – anunciou ainda um aumento de 37% nos lucros globais, para 1.384 milhões de euros, dos quais 20% serão distribuídos aos acionistas.
Obter lucros é indispensável. E quantos mais, melhor. Porque podes pagar melhor aos trabalhadores, aos fornecedores e aos acionistas.
“Obter lucros é indispensável. E quantos mais, melhor. Porque podes pagar melhor aos trabalhadores, aos fornecedores e aos acionistas”, sublinhou Juan Roig. Indicou ainda que os objetivos para 2025 passam por subir as vendas para 40.100 milhões de euros (+3,5%), contratar mais mil pessoas e manter o volume de investimento anual em torno dos mil milhões durante este ano.
Uma das maiores apostas em Espanha passa pelas vendas online, ainda não disponíveis em Portugal, que no ano passado valeram 840 milhões de vendas, correspondentes a 2% do total faturado. Finalmente, questionado sobre se pondera avançar para um terceiro país, Juan Roig respondeu que a Mercadona “ainda [tem] muitíssimo trabalho em Portugal e Espanha”.
“Só iremos para um terceiro país quando isto [no mercado ibérico] estiver consolidado. Não podemos ir para um terceiro país e correr o risco de perder os outros dois”, ilustrou o presidente da gigante retalhista espanhola, nascido em 1949, que afastou ainda a possibilidade de se afastar das atuais funções executivas enquanto estiver “física e mentalmente bem”.
(O jornalista viajou para Valência a convite da Mercadona)
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