“Parem de brincar com o país.” Empresários muito apreensivos com instabilidade política

O ECO ouviu 16 empresários e dirigentes associativos sobre o efeito da crise política na evolução dos negócios, e a grande maioria critica a instabilidade política e aponta riscos para o futuro.

A menos de uma semana da votação de uma moção de confiança que deverá fazer cair o Governo e enviar o País para eleições legislativas antecipadas, os empresários ouvidos pelo ECO mostram grande preocupação com o momento de instabilidade política, que terá consequências económicas.

A esmagadora maioria defende que é uma irresponsabilidade o País mergulhar de novo numa crise parlamentar, num momento de grandes desafios económicos e geopolíticos e em que Portugal até vivia um período comparativamente positivo. O Produto Interno Bruto (PIB) português cresceu 1,9% em 2024, de acordo com uma estimativa do INE, publicada a 30 de janeiro, com o consumo das famílias a ser o motor do crescimento da economia nacional no ano passado. Este dado superou a previsão do Governo (1,8%) e a maioria das projeções de instituições nacionais e internacionais, sendo ainda cerca do dobro do registado na União Europeia.

O País terá ainda fechado o ano de 2024 com um excedente orçamental de 0,4% do PIB. Já a dívida pública caiu para 95,3% do PIB no final do ano passado, abaixo das previsões do Governo, que apontavam para os 95,9%. Um melhor desempenho económico em 2024 ajudou a baixar o rácio para o valor mais baixo desde junho de 2010, há 14 anos. As previsões das entidades oficiais variavam entre os 91,2% do Banco de Portugal e os 95,9% do Ministério das Finanças. A Comissão Europeia previa uma queda para os 95,7% e o FMI 94,4%.

Para os empresários que partilharam a sua visão com o ECO, este trabalho e aquele que o País teria ainda pela frente pode ficar em causa ou, pelo menos, sofrer alguns contratempos no curto prazo. A execução dos fundos europeus, a incerteza de consumidores e investidores e a imagem internacional de Portugal são alguns dos pontos que levantam mais preocupação.

Um sentimento que pode ser sintetizado nas palavras, duras, de José Germano de Sousa, CEO do Grupo Germano de Sousa e presidente da Associação das Empresas Familiares: “O que posso dizer enquanto empresário é que resolvam lá o futuro que nós estamos aqui para ajudar a gerir o futuro do país. Parem de brincar com Portugal.”

Enquanto alguns ainda esperam que o cenário de queda do Governo possa ser evitado, todos pedem, caso se avance para eleições, a máxima celeridade no processo.

Leia abaixo a opinião de 16 empresários e dirigentes associativos, em declarações ao ECO:

“Como em qualquer crise política, esta instabilidade impacta diretamente no comportamento dos consumidores” – Carlos Mendes Gonçalves, CEO da Casa Mendes Gonçalves

“Vivemos tempos incertos, marcados pela transformação política nos Estados Unidos da América, as guerras na Ucrânia e Médio Oriente, e todas as repercussões políticas e económicas que daí derivam.

Após a aprovação do Orçamento de Estado, os portugueses começaram a acreditar que, apesar desta ambiguidade mundial, o ano de 2025 poderia, afinal, trazer algum alívio e tranquilidade. No entanto, a possibilidade de queda do governo traz agora uma nova onda de incerteza ao país.

Como em qualquer crise política, esta instabilidade impacta diretamente no comportamento dos consumidores. Em tempos de incerteza, as pessoas tendem a retrair-se, revendo os seus padrões de consumo e, muitas vezes, adiando ou alterando decisões de compra. Essa cautela por parte dos consumidores pode refletir-se numa desaceleração da procura por bens e serviços, o que afeta inevitavelmente os negócios das empresas.

Adicionalmente, a instabilidade económica resultante da queda de um governo pode afetar diretamente a execução dos fundos europeus, uma vez que pode gerar incertezas políticas e administrativas.

Apesar da instabilidade, é fundamental que as empresas se mantenham resilientes e procurem adaptar-se ao novo cenário. Os desafios trazidos pela incerteza podem também abrir espaço a oportunidades, principalmente para os que conseguem compreender e antecipar as necessidades do mercado. A inovação e a flexibilidade continuam a ser os maiores aliados das empresas. Na Casa Mendes Gonçalves, procuramos adotar uma gestão consciente e orientada para o futuro, porque acreditamos que só assim é possível encarar a incerteza com uma visão estratégica e positiva.”

Carlos Mendes Gonçalves, CEO da Casa Mendes GonçalvesHugo Amaral/ECO

“As empresas precisam de um ambiente regulatório e financeiro estável” – Daniela Simões, CEO e cofundadora da miio

“O atual momento político em Portugal vive um misto de incerteza e oportunidade para as empresas, especialmente num contexto de transição energética e inovação tecnológica. A execução dos fundos europeus e a estabilidade das políticas económicas serão fatores críticos para o desenvolvimento dos negócios, sobretudo em setores estratégicos como a mobilidade elétrica.

No caso específico da miio, experienciar instabilidade na implementação do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) ou do Regulamento Europeu AFIR pode afetar diretamente o ritmo de expansão da rede de carregamento e a adoção da mobilidade elétrica. A burocracia e os atrasos na atribuição de fundos podem criar um desfasamento entre a intenção política de acelerar a transição energética e a sua materialização prática, impactando tanto as empresas como os consumidores.

Além disso, a imprevisibilidade política pode influenciar a regulação do setor e o nível de compromisso do governo com medidas estruturais para a eletrificação dos transportes. Por outro lado, num cenário de maior estabilidade e execução eficiente dos fundos europeus, Portugal pode consolidar-se como um hub de inovação na mobilidade elétrica, atraindo investimento e fomentando o crescimento de negócios tecnológicos. A chave estará na capacidade do próximo governo em garantir previsibilidade e um ecossistema favorável ao investimento, evitando oscilações políticas que possam travar o desenvolvimento empresarial.

No fundo, as empresas precisam de um ambiente regulatório e financeiro estável para poderem executar planos de crescimento a longo prazo. Qualquer hesitação ou retrocesso nas políticas de transição energética pode comprometer não só o desenvolvimento do setor, mas também a competitividade do país no mercado europeu”.

Daniela Simões

“Incerteza tende a travar investimentos e decisões de longo prazo por parte das empresas” – Diogo Mónica, cofundador e chairman da Anchorage Digital

“O atual momento político na Europa está marcado por uma incerteza sem precedentes. A um cenário já caracterizado por tensões geopolíticas e económicas agravadas, a decisão dos Estados Unidos de reduzir/suspender o seu apoio à Ucrânia vem acrescentar uma nova camada de volatilidade. Nomeadamente, a retirada do suporte americano obriga a Europa a reavaliar a sua dependência estratégica e a assumir um papel mais autónomo na segurança coletiva. Embora necessário e potencialmente inevitável, isso acontece numa altura de recursos escassos e prioridades concorrentes, criando pressões que não deixam de fazer tremer a própria coesão da União Europeia.

No plano económico, esta incerteza tende a travar investimentos e decisões de longo prazo por parte das empresas. A volatilidade nos mercados, intensificada por possíveis interrupções no fornecimento de energia e matérias-primas, pode aumentar os custos operacionais e diminuir a confiança dos investidores. Quanto à execução dos fundos europeus, o impacto pode ser duplo: por um lado, a necessidade de reforçar a defesa e a resiliência energética pode desviar parte desses recursos; por outro, a hesitação das empresas em avançar com investimentos, face a um futuro incerto, pode comprometer a taxa de execução desses fundos.

Os únicos que parecem beneficiar neste cenário são os fornecedores de sistemas de defesa. Esperemos que a Europa saia mais forte e coesa, no fim de tudo isto”.

Conferência "New Money" - 19MAR22
Diogo MónicaHugo Amaral/ECO

“O governo cair não ajuda muito, mas o impacto pode ser limitado” – Humberto Ayres Pereira, fundador e CEO da Rows

“O momento atual é de muito otimismo mas também muita incerteza. O governo cair não ajuda muito, mas o impacto pode ser limitado. O principal otimismo está na renovação tecnológica por causa da AI, que muda os custos e oportunidades da competição entre empresas. Muitas startups podem desaparecer por não se adaptarem, mas muitas outras serão criadas, mas em geral todos os que tentarem vão aprender imenso. E isto é bom.

A incerteza tem a ver com a situação caótica nos EUA, e os mercados não gostam de demasiada incerteza. Isto vai penalizar alguns tipos de investimentos e parcerias entre empresas. A guerra continua, o que limita o foco da Europa no crescimento económico, mas apesar de tudo a liderança da EU já sinalizou que quer menos burocracia e mais investimento em AI. Isto é um bom passo.

Ao nível local, Portugal pode ver uma mudança significativa, o que vai penalizar sobretudo empresas de áreas dependentes da regulação e intervenção do Estado, como o turismo e algumas indústrias. As contratações podem ficar mais difíceis, o que será mau, mas não acredito. Quanto à execução dos fundos, não estou por dentro, mas duvido que haja problema. O PSD e o PS estiveram no governo nos últimos anos, e ambos serão fortemente penalizados se não houver uma boa execução do PRR (a “bazuca”). Eu gostava que um governo se focasse a agilizar processos de empresas, fora das questões politizadas dos impostos. O maior fator limitador a crescer continua a ser a falta de talento e o tempo perdido em porcarias, coisas que necessitam de resoluções que não são super ideológicas.”

“Adicionar incerteza política ao cenário só dificulta ainda mais o planeamento estratégico e a atração de capital” – José Campos, COO e cofundador da QuantumNova

“A instabilidade governativa traz sempre um custo para a economia, especialmente em setores que dependem de investimento a longo prazo, como o da inovação ou da tecnologia. A confiança dos investidores e a previsibilidade do ambiente de negócios são fundamentais para o crescimento sustentável. Empresas de deeptech já enfrentam desafios significativos devido ao tempo prolongado de desenvolvimento e à necessidade contínua de financiamento. Adicionar incerteza política ao cenário só dificulta ainda mais o planeamento estratégico e a atração de capital. O país precisa de estabilidade para permitir que o setor empresarial prospere e continue a criar valor.”

“A incerteza gerada por instabilidade governativa pode afetar as decisões de investimento” – José Cardoso Botelho, CEO da Vanguard Properties

“Tenho acompanhado a situação com atenção, pois a instabilidade política tem impacto direto na confiança dos investidores. Embora o setor privado tenha uma grande capacidade de adaptação, a previsibilidade política é essencial para o desenvolvimento dos negócios.

A confiança dos investidores, tanto nacionais como internacionais, depende da estabilidade política. Tenho defendido que a incerteza gerada por instabilidade governativa pode afetar as decisões de investimento, e o setor imobiliário, como tantos outros, precisa dessa previsibilidade para continuar a crescer de forma sustentável.

A instabilidade política gera incertezas que afetam diretamente o ambiente de negócios. Quando há incerteza, os investidores tornam-se naturalmente mais cautelosos, podendo adiar ou mesmo reavaliar os seus planos de investimento.

O mercado imobiliário português tem demonstrado uma grande resiliência e capacidade de adaptação, mas não há dúvida de que a confiança dos investidores é um fator decisivo. Quando o país enfrenta um cenário político instável, é normal que essa confiança seja abalada, o que pode comprometer o crescimento e penalizar o ambiente de negócios.

A instabilidade política pode comprometer a execução eficiente do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), o que representa um risco sério para a economia nacional. Se os fundos europeus não forem utilizados de forma eficaz e atempada, o país pode perder uma oportunidade única de modernizar a economia e impulsionar setores estratégicos. O PRR é um instrumento fundamental para o crescimento sustentável de Portugal. No entanto, num contexto de instabilidade política, o risco de adiamento ou bloqueio de projetos aumenta significativamente. É por isso que defendo a necessidade de um governo estável, capaz de garantir que estes fundos sejam aplicados de forma eficiente, assegurando o desenvolvimento do país a longo prazo.”

José Cardoso BotelhoHenrique Casinhas / ECO

“Não andem a brincar com o País” – José Germano de Sousa, CEO do Grupo Germano de Sousa e presidente da Associação das Empresas Familiares

“É uma situação cómica. O caminho possível estava a ser feito. Era um caminho que era necessário e que nunca seria feito em menos de dois ou três mandatos. Nós empresários precisamos conhecer as regras do jogo. Não andem a brincar com o País. Como vou definir o investimento futuro sem conhecer as regras do jogo? É uma contínua pressão. Estamos novamente num impasse e o país não tem capacidade para isso. O país está ligado à máquina.

Por exemplo na saúde, vemos o que foi destruído. Os modelos das parcerias público-privadas foram destruídos e estávamos agora a voltar [a recuperar estes modelos]. Não se faz isto em quatro anos. Estamos aqui a brincar. O Governo está nos cuidados intensivos.

O que posso dizer enquanto empresário é que resolvam lá o futuro que nós estamos aqui para ajudar a gerir o futuro do país. Parem de brincar com Portugal, mas a identidade nacional está nas empresas – e nas empresas familiares – que estão cá para ficar a longo prazo.

Só posso acreditar que sim há riscos de execução no PRR. Vai haver aqui um período de transição em que é normal que quem está tente fechar alguns processos, para acelerar, mas cria muitos impasses e equipas vão ter que congelar (projetos).

A nível estratégico futuro deixa de haver espaço para a concretização, por exemplo, de um caderno de encargos. Gera instabilidade para investidores nacionais ou estrangeiros.”

José Germano de Sousa, administrador do Grupo Germano de Sousa, em entrevista ao ECO Magazine - 17JUL24
José Germano de Sousa, administrador do Grupo Germano de SousaHugo Amaral/ECO

“A AEP espera que o cenário de eleições antecipadas não se venha a concretizar” – Luís Miguel Ribeiro, Presidente do Conselho de Administração da AEP

“A AEP espera que o cenário de eleições antecipadas não se venha a concretizar. As empresas precisam de estabilidade e previsibilidade, muito importantes no mundo dos negócios. Já basta o elevado clima de incerteza de origem internacional, nomeadamente de cariz geopolítico.

Qualquer que seja o contexto, o país precisa de equilíbrio. Numa conjuntura tão delicada como a que enfrentamos essa necessidade é ainda maior. A instabilidade política afetará a economia em diversos aspetos, designadamente ao nível de uma menor celeridade na execução dos fundos europeus e de uma desconfiança dos investidores, condicionando a atratividade do nosso país na captação de investimento, nacional e estrangeiro.

Os políticos devem fazer tudo o que está ao seu alcance para evitar riscos acrescidos para o país, pois os riscos de natureza externa, que existem, e são muitos, esses não os podem controlar.”

Luis Miguel Ribeiro, presidente da AEP, em entrevista ao ECO - 13SET22
Luís Miguel RibeiroRicardo Castelo/ECO

“Que passe a moção de confiança, sim, sim, sim” – Miguel Pina Martins, chairman da Science4You

“Acima de tudo os empresários e dirigentes associativos esperam estabilidade e querem medidas que possam ajudar as empresas a serem mais competitivas e ter custos de contexto mais baixos. Já tínhamos um Orçamento de Estado aprovado e em que havia o compromisso de uma baixa de IRC no próximo ano, são coisas positivas, e tudo o que não vá ao encontro disso acaba por ser negativo. Portanto, tudo o que seja crises políticas, eleições, instabilidade, não saber o que aí vem, é negativo.

Aquilo que se quer — e penso que todos os agentes querem — neste momento é que esta clarificação seja rápida, e já que tem que vir, se a moção de confiança não for aprovada (e era ótimo que o fosse, pelo lado dos empresários), queremos é estabilidade e que se continue a executar não só ao nível de políticas, mas também ao nível dos fundos europeus.

Portanto, estabilidade, sim, sim, sim. Que passe a moção de confiança, sim, sim, sim. E que, se infelizmente não for possível, que seja tudo muito rápido e as eleições sejam o mais depressa possível para que exista esta clarificação que permita que o país se governe.

Acima de tudo, o país tem de ser governado e andarmos neste tema de eleições, ano a ano, acaba por não interessar a ninguém. Todos esperamos que isto esteja resolvido o mais depressa possível e que se possa continuar a diminuir os custos de contexto, nomeadamente nos impostos diretos e indiretos e consiga existir estabilidade.”

Miguel Pina Martins, fundador da Science4You.D.R.

“Para as startups portuguesas este impasse político é particularmente preocupante” – Miguel Ribeiro, cofundador e CEO da startup SheerMe

“O atual momento político em Portugal é marcado por uma fragilidade alarmante. A incerteza política tem um impacto direto na economia e no desenvolvimento dos negócios. Empresas, especialmente PME, que dependem de estabilidade para planear investimentos, podem adotar uma postura cautelosa, adiando projetos ou contratações. A execução dos fundos europeus, como os 23 mil milhões de euros do Portugal 2030 e os recursos do PRR, corre sérios riscos de atrasos, numa altura em que já se registam críticas à lentidão na sua aplicação. Sem um governo forte, a burocracia pode agravar-se, comprometendo iniciativas de digitalização, transição verde e internacionalização que são vitais para a competitividade económica. Num contexto global de inflação e taxas de juro elevadas, esta paralisia pode afastar investimento estrangeiro, minando a recuperação económica que Portugal vinha sustentando desde a pandemia.

Para as startups portuguesas, que têm procurado afirmar-se num ecossistema global, este impasse político é particularmente preocupante. Muitos de nós dependemos de fundos europeus como alavanca inicial, mas também competimos por capital internacional de venture capital. A instabilidade política pode abalar a confiança de investidores estrangeiros, que valorizam a previsibilidade e um ambiente de negócios favorável. Se os projetos financiados pelo Portugal 2030, como os focados em inovação e tecnologia, travarem, as startups arriscam perder terreno face a concorrentes de outros países. Por outro lado, uma resolução rápida — seja pela continuidade do governo ou por novas eleições que tragam clareza — poderia reforçar a imagem de Portugal como um destino resiliente, mas, por agora, o futuro permanece incerto e as oportunidades estão em suspenso.”

Miguel Ribeiro, da SheerMe

“Esperamos que, como país, consigamos evitar crises políticas e focar-nos no que realmente importa” – Miguel Santo Amaro, fundador da Coverflex

“Preferimos não comentar situações políticas específicas, mas esperamos que, como país, consigamos evitar crises políticas e focar-nos no que realmente importa: melhorar as condições de vida de todos os que vivem em Portugal e dos portugueses no estrangeiro. A estabilidade e a previsibilidade são fundamentais para a economia, para o desenvolvimento das empresas e para a execução eficiente dos fundos europeus e projetos estruturais”.

Miguel Santo Amaro, Cofundador e CEO da Coverflex

“Incerteza interna acrescenta desafios adicionais num cenário já complexo” – Nuno Terras Marques, presidente do Conselho de Administração Executivo do Grupo Visabeira

“A instabilidade política em Portugal deve representar um fator de grande preocupação para o país. Num momento em que o mundo enfrenta profundas transformações geopolíticas e macroeconómicas, esta incerteza interna acrescenta desafios adicionais num cenário já complexo.

Empresas e mercados precisam de previsibilidade para operar eficazmente, e qualquer incerteza prolongada pode ter consequências negativas no investimento, no emprego e na competitividade do país.

Num contexto global marcado por tensões comerciais, conflitos internacionais e volatilidade económica, Portugal precisa mais do que nunca de uma governação firme, capaz de assegurar confiança, atrair investimento e manter um ambiente propício ao desenvolvimento dos negócios. A instabilidade neste momento torna-se, por isso, ainda mais preocupante.”

Nuno Terras MarquesPedro Ferreira/Visabeira

“Importa que rapidamente se restaure a legitimidade dos representantes democráticos” – Pedro Ginjeira do Nascimento, secretário-geral da Associação Business Roundtable Portugal

“No BRP, acreditamos sobretudo que são os privados — pessoas e empresas —quem cria oportunidades e riqueza. Por isso, acreditamos que o país continuará a trabalhar e a viver, independentemente do contexto político. Apesar das incertezas, a atividade das empresas prossegue, adaptando-se aos desafios e encontrando novas oportunidades, num esforço contínuo para garantir o crescimento e o desenvolvimento do país.

Havendo questões sobre a capacidade do Governo e da Assembleia da República para tomarem decisões, importa que rapidamente se restaure a legitimidade dos representantes democráticos, para que possam discutir, decidir e agir no interesse do País. Vivemos, ainda para mais, um momento charneira importante da história recente, para o qual é essencial que Portugal esteja legitimamente representado nos fóruns europeus e mundiais onde as grandes decisões estão a ser tomadas.

São momentos como este que reforçam a necessidade de reduzir a burocracia e simplificar e clarificar procedimentos e regras, de forma a tornar o ambiente económico mais eficiente e previsível. É preciso profissionalizar e tornar mais independentes os órgãos técnicos da Administração Pública, garantindo que a capacidade do Estado para operar e executar planos estratégicos não seja comprometida a cada ciclo eleitoral.”

Pedro Ginjeira do NascimentoHugo Amaral

“A classe política decide mergulhar-nos numa crise de onde ninguém sairá ileso” -, Rafael Alves Rocha vice-presidente da CIP

“A CIP – Confederação Empresarial de Portugal olha com bastante preocupação para o atual momento político em Portugal. Numa altura em que diversos indicadores económicos permaneciam estáveis, favorecendo dessa forma o ambiente de negócios no nosso país, a classe política decide mergulhar-nos numa crise de onde ninguém sairá ileso. A incerteza, a desconfiança e a imprevisibilidade são anátemas lançados sobre a economia muito difíceis de ultrapassar no médio-longo prazo, mas fáceis de impor da noite para o dia.

Tudo o que menos precisávamos de juntar hoje ao contexto internacional, pautado pelas disrupções, pelas deliberações unilaterais, pelos movimentos populistas, pelas guerras comerciais ou políticas protecionistas, era um enquadramento nacional assente na suspeição, nos jogos partidários, na política de terra queimada. Temos um PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) para executar, um Programa ‘Acelerar a Economia’ para colocar no terreno, uma cultura administrativa para desburocratizar. Temos de aumentar a produtividade, reforçar a competitividade e estimular a inovação das empresas portuguesas. Temos um país para desenvolver, transformar, modernizar. Exigia-se coesão, discernimento, responsabilidade. Até porque o interregno que viveremos com um Governo limitado na sua capacidade de ação poderá levar ao adiamento de importantes decisões de investimento (o acima referido PRR mas também o Portugal2030). Resta-nos esperar que tal interrupção seja a mais curta quanto permita o tempo político. Lamentando que as principais forças políticas não tenham sabido evitar uma crise indesejada pelos portugueses“.

Rafael Alves Rocha, vice-presidente da CIP

“Ninguém crê num país onde as instituições são sujeitas a este nível de instabilidade e de episódios” – Ramiro Brito, Presidente da Associação Empresarial do Minho

“Não podemos viver num país que quer (e bem) políticos que tenham experiência e que venham acrescentar à vida política portuguesa e depois exigirmos que eles, quando chegam ao poder, não tenham histórico. O histórico que nós devemos atentar refere-se à sua carreira profissional, se foi revestida de princípios de ética, de idoneidade e de lisura. Se o simples facto de um político ter tido uma empresa que interagiu com outras empresas que se relacionam com o Estado, e, sejamos claros, o número de empresas em Portugal que interagem com o Estado é enorme, então nós vamos reduzir a nossa possibilidade de escolhas para cargos políticos a um número absolutamente irrisório. Pior, vamos contrariar o princípio que nós estamos a defender. Vamos passar a ter políticos de carreira, sem experiência nenhuma, e que, claramente, não irão acrescentar valor ao país.

Achamos que faz sentido que o primeiro-ministro dê explicações, quando lhes são pedidas, sobre como a sua empresa desenvolveria atividades. A empresa, por si, como uma entidade que é detentora de personalidade jurídica, tem o direito ao sigilo dos seus clientes. Não é exequível exigir a um primeiro-ministro que toda a sua família deixe de trabalhar onde trabalhava, para que ele seja primeiro-ministro. Portanto, tudo isto foi claramente exagerado e está revestido de um jogo político, onde, na nossa opinião, todas as partes se portaram mal. Portaram-se mal as partes que tentaram usar estes episódios absolutamente irrisórios para desviar as intenções de outros episódios mais graves que ocorreram, eventualmente, na sua esfera política. Portaram-se mal os partidos do arco da Governabilidade, porque entraram no jogo e, em vez de serem os primeiros a defender e a manter a elevação da Assembleia da República e o foco naquilo que realmente importa ao país, entraram no circo que aqui foi criado. Não eleva o governo quando entende precisar de uma moção de confiança, depois de ter sido democraticamente eleito e à custa de um episódio absolutamente irrelevante.

Portugal está a dar uma péssima imagem ao mundo. Ninguém crê num país onde as instituições são sujeitas a este nível de instabilidade e de episódios. Parece que estamos, simplesmente, a ser guiados e levados pelos interesses dos partidos. Isto é mau para o país e é mau para a democracia. Não vai demorar muito tempo para que, se persistirmos em denegrir, em escamotear tudo aquilo que é o património positivo do sistema democrático, as pessoas comecem a não acreditar no sistema. E não há nada pior na política e na democracia do que o descrédito popular em relação ao sistema em si.

A economia, as empresas e os trabalhadores precisam de foco dos seus governantes no progresso, no funcionamento eficiente das instituições e do Estado e no crescimento económico. Crescer é a nossa grande meta e não o conseguiremos fazer com estes constantes atropelos à credibilidade e normal funcionamento das instituições. Rigor com lisura, com foco e espírito de cooperação para que possamos construir um país próspero, onde se viva melhor, capaz de atrair talento e projetar um futuro mais sólido para os nossos filhos.”

“A incerteza é inimiga do crescimento” – Stephan Morais, presidente da Associação Portuguesa de Capital de Risco (APCRI)

“Tudo o que represente instabilidade é prejudicial ao investimento porque a incerteza é inimiga do crescimento económico. Caso tenha que haver uma pausa, que seja breve”.

Stephan de MoraisHugo Amaral/ECO

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