Lisboa no top do mundo com melhor presente e mais futuro

  • Joana Oliveira Costa
  • 20 Novembro 2024

Lisboa está no top do mundo com melhor presente e mais futuro: eis o que se pode dizer ao fim de três anos de Novos Tempos em Lisboa, sob a liderança de Carlos Moedas.

É, seguramente, um projeto inacabado, não linear, com percalços e dilemas, mas não são assim todos os projetos ambiciosos e de sucesso?

Permitam-me começar por um agradecimento: a Mario Draghi. E o agradecimento não é tanto pelo que nos inspirou, mas pelo reconhecimento que acaba, involuntariamente, de nos fazer: na identificação dos constrangimentos de que partimos, na enunciação dos valores que prezamos, e no caminho que aponta. Draghi fala, obviamente, da União Europeia. Tratando-se, todavia, do The future of European competitiveness (rapidamente batizado de Relatório Draghi), e sendo Lisboa uma das mais luminosas cidades europeias, é impossível não deslocarmos o olhar, à boleia de Pessoa, precisamente para o rosto com que a Europa fita o Ocidente, “futuro do passado”: Portugal (e, necessariamente, Lisboa).

Lisboa identificou os constrangimentos, abraçou os valores (que são seus) e trilhou o caminho. Fê-lo com três anos de antecedência, quando Carlos Moedas ganhou as eleições e se tornou presidente da Câmara Municipal.

Já vamos aos constrangimentos e ao caminho, mas permitam-me começar pelos valores: “prosperidade, equidade, liberdade, paz e democracia num ambiente sustentável”. A primeira lição: o nosso modo de vida, ameaçado por vários fatores, só se consegue manter alicerçando o que daqui em diante fizermos nos nossos valores. Ou seja, sem prosperidade não há crescimento económico — sem criação de riqueza não há redistribuição –; sem redistribuição não há equidade nem justiça social; sem liberdade, paz e democracia não há Europa como a temos construído desde o fim da II Grande Guerra Mundial. Sem isto, esqueçam a sustentabilidade.

Não vale sequer a pena enumerar as iniciativas de envolvimento dos cidadãos, promotoras da democracia na cidade, como o inédito Conselho de Cidadãos, ou o foco na sustentabilidade com a aprovação do Plano de Ação Climática 2030 que este executivo assumiu, ou ainda a gratuitidade que promoveu dos transportes públicos assim que iniciou funções; são expressões dos nossos valores e passos concretos rumo aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Mas vamos diretamente aos constrangimentos que encontrámos e ao caminho que escolhemos, em matéria de Economia e Inovação. Diz Draghi que “o problema não é a Europa não ter ideias ou ambição. Temos muitos investigadores e empreendedores talentosos registando patentes. Mas a inovação é bloqueada na fase seguinte: não estamos a conseguir traduzir a inovação em comercialização, e as empresas inovadoras que pretendem expandir-se na Europa são dificultadas em todas as fases por regulamentações inconsistentes e restritivas. Como resultado, muitos empresários europeus preferem procurar financiamento junto de capitalistas de risco dos EUA e expandir-se no mercado dos EUA. Entre 2008 e 2021, perto de 30% dos “unicórnios” fundados na Europa — startups que passaram a ser avaliadas em mais de mil milhões de dólares — transferiram as suas sedes para o estrangeiro, tendo a grande maioria mudado para os EUA.”

Foi com este conhecimento, de anos como Comissário Europeu com a pasta da Inovação, que Carlos Moedas lançou uma visão para a cidade de Lisboa, procurando contrariar esta tendência: “Tornar Lisboa uma Cidade mais rica e mais competitiva. Mais rica na geração de valor económico, mais rica no nível do bem-estar e estilo de vida que proporciona aos seus habitantes, trabalhadores e a quem a visita, mais rica na autenticidade de experiências que pode proporcionar e mais competitiva como polo de atração de investimento e talento internacional.”

E foi graças a essa visão que Lisboa se tornou na 4.ª Startup Hub mais popular na Europa, provando ser um ecossistema produtivo para o sucesso das startups, com mais de 70 centros tecnológicos a investirem em Lisboa, que criaram 15 mil oportunidades de emprego. Uma cidade no Top 3 para nómadas digitais, com mais de 380.000 empresas com um valor empresarial de 21 bilhões de euros, mais de 5.000 startups, 25 programas de aceleração, 26 incubadoras, mais de 100 espaços de cowork e 15 novos unicórnios gerando mais de 1.600 empregos. A tudo isto juntamos, de acordo com o Financial Times, três universidades no Top 50 mundial.

Não é tudo, mas não é coisa pouca. Não é, de tal forma, coisa pouca, que Lisboa mereceu, por parte da Comissão Europeia, o título de Capital Europeia da Inovação, uma distinção que para lá do muito que nos honra, muito nos responsabiliza. Por que é que não é tudo e por que é que este reconhecimento muito nos responsabiliza?

Porque em Lisboa apostamos fortemente no equilíbrio entre a disrupção tecnológica e a coesão social; entre o grande investimento e a resposta de rosto humano; entre o futuro e a identidade. E foi por isso que, com o prémio de um milhão de euros recebido, lançámos um programa de apoio a iniciativas de Inovação Social: em Lisboa não deixamos ninguém para trás.

E o que também não deixamos para trás, apesar de todas as pressões de mercado, alterações de tecido empresarial, mutações sociológicas, é a nossa identidade e o propósito de termos uma cidade com diversas centralidades. E é por isso que, a par do grande investimento que fazemos na inovação, no tecido empresarial, e no propósito de crescer (designadamente de startup a scale-up e de scale-up a unicórnio), mantivemos e revimos o nosso programa Lojas Com História.

Repito: temos percalços e dilemas e o equilíbrio não é fácil. Mas apesar de tudo isso, um estudo recente mostra que há um novo impulso ao crescimento do comércio tradicional e que o comércio de rua está em franca expansão em Lisboa, tendo-se verificado em 2023 um aumento de novas lojas de rua face a 2022, contrariando uma tendência negativa no resto da Europa.

Dir-me-ão que as novas lojas, por mais virtuoso que a sua abertura seja, não são lojas com história. Todavia, com o nosso programa, procuramos dentro do que é possível, sem distorção do mercado e não assumindo funções que não são nossas, continuar a reconhecer o mérito do seu património comercial (e não só), a capacitar os empresários e a manter um fundo de apoio com uma dotação de 250 mil euros (reforçável) e totalmente financiado com receitas da taxa turística.

Adicionalmente, juntamente com Paris, Barcelona e Roma, assinámos a Declaração de Barcelona, um manifesto de compromisso para com os estabelecimentos emblemáticos da Europa, e solicitámos conjuntamente a promoção de uma resolução de apoio a estes estabelecimentos e o desenvolvimento de uma iniciativa que permitisse trabalhar ações-piloto de forma transversal entre comissões parlamentares, como as de cultura e desenvolvimento regional, bem como a solicitação de acompanhamento do processo pelo escritório de ligação da Unesco, em Bruxelas.

Termino como comecei: é um projeto inacabado. Mas estamos convictos que este caminho significa, para Lisboa, mais futuro e melhor presente. Vamos continuar.

  • Joana Oliveira Costa
  • Vereadora da Economia e Inovação da Câmara Municipal de Lisboa

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