Gigante holandesa das tintas fecha reestruturação “violenta” em Portugal
Após comprar o negócio de tintas decorativas da Titan, AkzoNobel fechou fábrica na Maia e despediu 130 trabalhadores. Concluída a reestruturação, quer chegar a vendas de 25 milhões e ao pódio no país.
A multinacional holandesa AkzoNobel, um dos maiores grupos mundiais no setor das tintas e líder na Europa, acaba de concluir o plano de reestruturação das operações em Portugal, que incluiu o encerramento de uma fábrica na Maia, o fecho das lojas próprias e o desmantelamento dos armazéns logísticos e de suporte à atividade em Alfena (Valongo) e na ilha da Madeira.
No âmbito deste programa, que envolveu “um valor muito acima dos cinco milhões de euros”, segundo calculou ao ECO o country manager em Portugal, Rui Campos, o número de trabalhadores no país encolheu de 163 para os atuais 32 – “uma redução brutal em muito pouco tempo” -, sendo que mais de 60% das pessoas abrangidas estavam ligadas à unidade produtiva.
Iniciado em março de 2021 e fechado no primeiro trimestre deste ano, o gestor reconhece que este “foi um plano muito violento, agressivo e que provoca sempre algum tipo de insegurança e de desconfiança nas pessoas e na equipa”. Ainda assim, assegura que a empresa “manteve sempre uma transparência total com todos e foi isso que garantiu uma paz social e um clima que é hoje satisfatório”.
Do plano de integração que foi ativado resultou a canalização de toda a produção para Barcelona. Tivemos de encerrar a unidade produtiva em Portugal, que também carecia de fortes investimentos no curto prazo.
Este processo foi iniciado pela AkzoNobel – já tinha antes operações em Portugal no segmento das tintas em pó e de pinturas para automóvel – na sequência da aquisição do negócio de tintas decorativas da catalã Industrias Titan, que somava mais de duas décadas no mercado português e detinha três fábricas, uma das quais na Maia. Nos últimos dois anos partilhou estas instalações no distrito do Porto com a portuguesa Neuce, que comprou a divisão de tintas em pó da empresa espanhola e ficou com “tudo o que era o imobiliário e o património em Portugal”.
“Do plano de integração e de reestruturação que foi ativado resultou, por exemplo, a canalização de toda a parte da produção para Barcelona, onde temos duas fábricas. Tivemos de encerrar a unidade produtiva em Portugal, que também carecia de fortes investimentos no curto prazo”, contextualiza Rui Campos. A equipa nacional está agora concentrada nas áreas comercial, de marketing e de suporte técnico, ocupando um escritório com 320 metros quadrados no Lionesa Business Hub, em Leça do Balio (Matosinhos).

Por outro lado, numa “adaptação ao modelo que a AkzoNobel preconiza, em que tudo o que é a distribuição e a logística do negócio está absolutamente externalizada”, o grupo de tintas passou a ter a DB Schenker como parceira de operação logística, com presença numa unidade da empresa alemã em Vila do Conde. A ideia inicial passava por servir a operação portuguesa através da nova plataforma logística da multinacional em Saragoça, mas acabou por ser revista por ser “absolutamente crítico” servir os distribuidores nacionais num prazo de 24 a 48 horas.
Vendas de 25 milhões com foco no pintor profissional
No mercado português de tintas, liderado pela CIN e pela Robbialac, e que classifica como “bastante competitivo e em que a qualidade da pintura é muito boa”, o porta-voz da multinacional com sede em Amesterdão diz que “a intenção é aproximar-se o mais possível dos dois principais operadores”. Depois de ter faturado 18,5 milhões de euros em 2022, “um ano de transição em que [executou] todas as decisões de cariz de reestruturação”, fixa como meta chegar a 2025 com uma faturação a rondar os 25 milhões de euros.
Sem as lojas próprias que vendeu ou trespassou – a Titan chegou a ter cerca de 18 espaços destes espalhados pelo país -, ao contrário das principais competidoras no mercado nacional, a AkzoNobel aponta ao reforço da quota de mercado no canal moderno, dominado por grandes superfícies como a Maxmat, Leroy Merlin ou Bricomarché, enquanto no canal da revenda ambiciona passar nos próximos três anos dos atuais 150 para 200 pontos de venda, aí com a gama dirigida aos profissionais da pintura.
Questionado sobre a possibilidade de a multinacional vir a ter uma fábrica em Portugal, Rui Campos respondeu que isso “não está em plano neste momento, mas não está excluída essa hipótese”. “Pode até vir a acontecer, fruto também do crescimento e do projeto de expansão ambicioso que temos para o mercado português. Se esse projeto for concretizado também dentro do prazo previsto, não vejo porque é que no futuro, a médio e longo prazo, não possa haver uma ou até mais unidades de produção da AkzoNobel em Portugal”, acrescentou o gestor, que foi contratado em julho de 2019 pela Titan.
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