Espanhóis da Miya querem explorar solar flutuante em Portugal com tecnologia israelita
Empresa de eficiência hídrica prevê que solar flutuante cresça de forma significativa até 2030. Através da Xfloat, Miya escolhe Portugal para lançar até final da década 250 MW de painéis com sensores.
A espanhola Miya, especializada em projetos de eficiência hídrica, e antiga gestora das concessões da Indaqua em Portugal, quer alargar o seu portefólio de negócios através do solar flutuante. Depois de o ter feito em Israel, país onde será inaugurado o maior parque solar flutuante com um sistema de rastreamento, a intenção é explorar o mesmo potencial em Portugal. “O mercado português é muito interessante e confere-nos grandes oportunidades de crescimento”, revela José Carazo, Miya Water Chief Growth Officer (CGO) ao Capital Verde.
A estratégia tem por base as metas portuguesas. Segundo o Plano de Energia e Clima (PNEC), até 2030, Portugal tem a ambição de instalar mais de 20 gigawatts (GW) de produção solar fotovoltaica, sendo que desses, quase 15 GW são referentes à produção centralizada. A ambição nacional interessou a empresa espanhola que prevê que da capacidade prevista para a produção fotovoltaica em Portugal, pelo menos 1 GW será representado pelo solar flutuante, tecnologia que por cá, atualmente, está a ser unicamente explorada pela EDP, na barragem do Alqueva. É neste setor que a Miya pretende crescer.
“As projeções para a energia fotovoltaica flutuante são realmente muito positivas. A nível mundial, antecipamos que o mercado cresça até 4 GW nos próximos cinco anos, atingindo cerca de 30 GW de capacidade acumulada até 2030. E em Portugal estimamos um crescimento com o mesmo potencial”, previu o responsável, adiantando que a empresa espanhola pretende acelerar as metas portuguesas.
A aposta no fotovoltaico sobre água será concretizada através da Xfloat, empresa israelita – da qual a Miya tornou-se acionista, em fevereiro passando a deter os direitos de exploração – que desenvolveu uma tecnologia que incorpora sensores (trackers) nos módulos. De acordo com a empresa, esta solução “diferenciadora” permite aumentar a rentabilidade na produção até 30% em comparação com as outras tecnologias fixas uma vez que estes módulos, através dos trackers, acompanham as horas de sol ao longo do dia.
“Alcançamos estes números porque a tecnologia Xfloat utiliza um sistema de rastreio que nos permite alterar o ângulo do painel da instalação fotovoltaica flutuante de 60 graus para -60 graus em tempo real”, explica o responsável, acrescentando que a operação é gerida por um sistema de controlo inteligente.
Além de ter a capacidade de otimizar a produção de energia solar, a Miya assegura que a tecnologia da Xfloat tem uma maior “durabilidade” devido à incorporação de materiais de qualidade marítima, nomeadamente, metais mais resistentes à corrosão da água e à instalação da estrutura a um metro acima do nível da água.
A esta durabilidade, acresce ainda a garantia de a estrutura ter uma melhor capacidade de resposta a condições climatéricas adversas, como ventos ou chuvas fortes, dada a possibilidade de colocar os módulos totalmente na horizontal.
“Acreditamos que dispomos da melhor tecnologia e que, obviamente, traríamos vantagens significativas para os operadores em Portugal”, sublinha o CGO espanhol.
Além de produzir eletricidade, os espanhóis da Miya garantem que a aposta no solar flutuante tem capacidade para criar sinergias “muito significativas” com a irrigação, as centrais hidroeléctricas e também com os serviços de abastecimento de água. “Isto vai trazer uma sinergia significativa para ter alguma produção de eletricidade para cobrir os custos de bombagem e eletricidade, porque os serviços de água são uma despesa”, argumenta Carazo.
De momento, ainda não é certo quando é que se materializarão os primeiros projetos, embora a Miya esteja confiante que dos 1 GW de painéis solares que deverão nascer em Portugal até ao final da década, pelo menos, 250 MW serão provenientes da tecnologia da Xfloat. Certo é que as conversações com os promotores a nível nacional, até ao momento, têm gerado interesse e feedback “positivo” na proposta espanhola, garantem.
Quanto a possíveis localizações, o Algarve e Alentejo são aquelas que conferem maior interesse para a empresa espanhola.
“Temos uma equipa em Portugal pronta para continuar as discussões com operadores e promotores para encontrar novas oportunidades”, indica José Carazo. “Vemos Portugal como um dos mercados de mais rápido crescimento em termos de solar flutuante, em comparação com Espanha e França, por exemplo”, acrescenta, apontando a regulação da energia fotovoltaica flutuante em Portugal como “uma das mais avançadas na União Europeia”.
De Israel para Portugal
A tecnologia da Xfloat já está testada e pronta para arrancar. Em Israel, a empresa espanhola prepara-se para inaugurar o maior parque flutuante do mundo com um sistema de rastreamento, ainda este ano. O parque terá uma potência de 10,6 MW com capacidade de produzir 21 GWh por ano, o suficiente para abastecer cerca de três mil famílias em Tel Aviv, estima Miya, sem revelar o valor do investimento. Naquela região, o consumo médio de eletricidade é de 8,000 kWh.
Mas neste momento, os planos de inauguração do parque estão suspensos devido ao conflito armado que decorre em Israel entre as forças militares e o grupo terrorista palestino Hamas. “O parque está completo e operacional. O evento de inauguração pode, contudo, ser adiado devido à situação atual”, admite a empresa. Ainda assim, a Miya mantém-se confiante nos resultados daquele parque.
Além de Portugal, a tecnologia da Xfloat poderá chegar também aos Estados Unidos e à Ásia onde prevê que haja também “um rápido crescimento” no setor do solar flutuante. Feitas as contas, a Miya prevê que até ao final do próximo ano, a tecnologia israelita permita inaugurar até 120 MW de nova capacidade de solar flutuante a nível mundial.
Aposta em Portugal também passa pela água
Ainda que a Miya esteja focada em explorar o potencial do fotovoltaico flutuante em Portugal, certo é que a aposta em sistemas de eficiência hídrica no país continua a ser uma prioridade para a empresa espanhola.
Em 2016, a empresa chegou a gerir todas as concessões da gestora de sistemas de abastecimento de água em Portugal, Indaqua, com o objetivo de melhorar o desempenho operacional, tendo colocado em curso três projetos sobre a água não faturada, isto é, a água que se perde na rede antes de chegar ao consumidor.
No entanto, no ano passado os espanhóis desvincularam-se dos portugueses e tornaram-se totalmente independentes, mas sem intenções de perder a experiência que ganharam por cá graças aos projetos sobre água não faturada. O foco da Miya agora é conseguir por mérito próprio o que conseguiu em Portugal através da Indaqua.
A ideia será escalar os projetos de eficiência sobre água não faturada nos próximos anos em todo o território, tal como já acontece nos 200 mercados onde está presente, nomeadamente, na Ásia, América Latina e em África. Para Carazo, o enquadramento legal português é “atrativo” para a empresa e confere “uma boa oportunidade” não só de crescimento para a empresa mas também “para melhorar as infraestruturas de água e os rácios operacionais em Portugal“, prevê o responsável.
Em 2021, a Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR) dava conta de que não foram faturados 234 milhões de metros cúbicos de água, dos quais a esmagadora maioria, 174 milhões (74%), dizem respeito a perdas de água no sistema. O resto, está relacionado com falhas na medição e outras questões. O regulador aponta ainda que, em 2021, 197 milhões de metros cúbicos (m3) de água, ou seja 23,9% do total de água que entrou no sistema, foram perdidos.
“Temos capacidade para melhorar a rede de água em Portugal”, assegura Carazo. Quanto a prazos, a empresa espanhola espera ter novidades no próximo ano, altura em que serão conhecidos os resultados dos concursos em que participou para a concessão de projetos no país.
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