Guerras e redução de voos no topo das preocupações dos hoteleiros para 2024

  • Ana Petronilho
  • 2 Fevereiro 2024

Hoteleiros frisam que, ano passado, Lisboa recusou voos com um total de 1,3 milhões de lugares por "incapacidade da infraestrutura". Guerras e juros levam setor a olhar com "prudência" para 2024.

Depois de um ano em que o turismo fez “brilharete” e “impulsionou a economia do país”, os hoteleiros veem 2024 com um “olhar confiante e positivo” ainda que com “alguma prudência”, tendo em conta que estão em curso duas guerras e “as taxas de juro estão ao dobro dos níveis da pandemia”, salienta Bernardo Trindade, presidente da Associação de Hotelaria de Portugal (AHP).

E é neste contexto que a instabilidade política, a subida dos juros e a redução do número de voos ocupam, este ano, o topo das preocupações dos hoteleiros, aponta ainda Cristina Siza Vieira, vice-presidente executiva da AHP, durante a apresentação dos resultados do inquérito que faz um balanço de 2023 e dá as perspetivas para 2024 do setor.

Entre os 476 estabelecimentos hoteleiros de todo o país, inquiridos entre 2 e 21 de janeiro de 2024, a guerra é apontada por 78% como o principal desafio para o turismo este ano, tendo subido “sem surpresa” como indicador de preocupação, face aos 55% registados no ano passado. Segue-se o aumento das taxas de juro que é apontado por 59% dos inquiridos como principal desafio para 2024 e 40% aponta a redução do número de voos.

Cristina Siza Vieira acrescenta ainda que a AHP “não tem nenhum sinal” de que o número de voos venha a ser reduzido, mas que este é um cenário que preocupa os hoteleiros que temem uma quebra no tráfego aéreo tanto “por causa da instabilidade geopolítica” como pela “capacidade aeroportuária” em Lisboa. A redução do número de voos é apontada como o principal desafio de 90% dos hoteleiros inquiridos nos Açores, por 73% na Madeira e por 58% no Algarve, sendo “regiões que são mais dependentes do espaço aéreo”.

Já Bernardo Trindade vinca que a capacidade do aeroporto de Lisboa “preocupa de forma generalizada todos os hoteleiros”, tendo em conta que a infraestrutura “serve todo o país”. E o dirigente vinca que, em 2023, o aeroporto de Lisboa “recusou 1,3 milhões de lugares de avião por incapacidade da infraestrutura” e que companhias, como a Saudi Arabia Airlines ou a Qatar Airways, não conseguem ter espaço para operar em Portugal, nem é “possível fazer um reforço da operação de companhias dos Estados Unidos”. Cenário que impede o transporte de “passageiros com elevada capacidade financeira” para Portugal, salienta o presidente da AHP.

Ainda dentro dos desafios do setor para 2024, Cristina Siza Vieira salienta que a escassez de água só não surge no topo da tabela porque o inquérito decorreu em janeiro. Caso fosse hoje realizado a falta de água “seria o ponto hipercrítico” apontado pelos hoteleiros, sobretudo nos que têm atividade no Algarve.

Preços e hóspedes continuam a subir em 2024

A fechar 2023 com um preço médio por noite a atingir os 141 euros, subindo 18%, e com uma taxa de ocupação média de 68% – com o Algarve a ficar abaixo de 2019 e os Açores a descer cinco pontos percentuais para 64% –, os hoteleiros preveem que em 2024 tanto os preços das estadias como o número de hóspedes continuem a subir.

De acordo com o inquérito da AHP, a maioria dos inquiridos (entre 58% e 66%) antecipam um preço médio por quarto melhor que 2023. Sendo que os hoteleiros da Área Metropolitana de Lisboa e do Norte “esperam um primeiro trimestre pior ou igual, mas o resto do ano igual ou melhor” em termos de preços. Já o Alentejo “espera um 2024 melhor que 2023 em todos os trimestres” do ano e a Madeira, Algarve e Centro “aguardam 2024 igual ou melhor”.

E o mesmo é esperado com as taxas de ocupação, com a maioria dos inquiridos, entre 43% e 54%, a antecipar uma taxa de ocupação em 2024 “pelo menos igual ou melhor que a de 2023”, refere ainda o inquérito.

À boleia da subida de preços, também a maioria dos inquiridos, entre 59% e 73%, antecipa encaixar “melhores” receitas em 2024 do que em 2023, sobretudo nos que operam nas regiões da Madeira e do Algarve.

Quanto aos mercados, os hoteleiros inquiridos acreditam que em 2024 vão receber menos turistas portugueses que deverão ficar em 74% do total de hóspedes, descendo dois pontos percentuais face a 2023. Entre os turistas estrangeiros, destaca-se o Reino Unido com 48%, e os turistas americanos vão continuar a crescer, estando previsto que atinjam os 42%, acima de Espanha com 41% do total de hóspedes.

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