Guerras e redução de voos no topo das preocupações dos hoteleiros para 2024
Hoteleiros frisam que, ano passado, Lisboa recusou voos com um total de 1,3 milhões de lugares por "incapacidade da infraestrutura". Guerras e juros levam setor a olhar com "prudência" para 2024.
Depois de um ano em que o turismo fez “brilharete” e “impulsionou a economia do país”, os hoteleiros veem 2024 com um “olhar confiante e positivo” ainda que com “alguma prudência”, tendo em conta que estão em curso duas guerras e “as taxas de juro estão ao dobro dos níveis da pandemia”, salienta Bernardo Trindade, presidente da Associação de Hotelaria de Portugal (AHP).
E é neste contexto que a instabilidade política, a subida dos juros e a redução do número de voos ocupam, este ano, o topo das preocupações dos hoteleiros, aponta ainda Cristina Siza Vieira, vice-presidente executiva da AHP, durante a apresentação dos resultados do inquérito que faz um balanço de 2023 e dá as perspetivas para 2024 do setor.
Entre os 476 estabelecimentos hoteleiros de todo o país, inquiridos entre 2 e 21 de janeiro de 2024, a guerra é apontada por 78% como o principal desafio para o turismo este ano, tendo subido “sem surpresa” como indicador de preocupação, face aos 55% registados no ano passado. Segue-se o aumento das taxas de juro que é apontado por 59% dos inquiridos como principal desafio para 2024 e 40% aponta a redução do número de voos.
Cristina Siza Vieira acrescenta ainda que a AHP “não tem nenhum sinal” de que o número de voos venha a ser reduzido, mas que este é um cenário que preocupa os hoteleiros que temem uma quebra no tráfego aéreo tanto “por causa da instabilidade geopolítica” como pela “capacidade aeroportuária” em Lisboa. A redução do número de voos é apontada como o principal desafio de 90% dos hoteleiros inquiridos nos Açores, por 73% na Madeira e por 58% no Algarve, sendo “regiões que são mais dependentes do espaço aéreo”.
Já Bernardo Trindade vinca que a capacidade do aeroporto de Lisboa “preocupa de forma generalizada todos os hoteleiros”, tendo em conta que a infraestrutura “serve todo o país”. E o dirigente vinca que, em 2023, o aeroporto de Lisboa “recusou 1,3 milhões de lugares de avião por incapacidade da infraestrutura” e que companhias, como a Saudi Arabia Airlines ou a Qatar Airways, não conseguem ter espaço para operar em Portugal, nem é “possível fazer um reforço da operação de companhias dos Estados Unidos”. Cenário que impede o transporte de “passageiros com elevada capacidade financeira” para Portugal, salienta o presidente da AHP.
Ainda dentro dos desafios do setor para 2024, Cristina Siza Vieira salienta que a escassez de água só não surge no topo da tabela porque o inquérito decorreu em janeiro. Caso fosse hoje realizado a falta de água “seria o ponto hipercrítico” apontado pelos hoteleiros, sobretudo nos que têm atividade no Algarve.
Preços e hóspedes continuam a subir em 2024
A fechar 2023 com um preço médio por noite a atingir os 141 euros, subindo 18%, e com uma taxa de ocupação média de 68% – com o Algarve a ficar abaixo de 2019 e os Açores a descer cinco pontos percentuais para 64% –, os hoteleiros preveem que em 2024 tanto os preços das estadias como o número de hóspedes continuem a subir.
De acordo com o inquérito da AHP, a maioria dos inquiridos (entre 58% e 66%) antecipam um preço médio por quarto melhor que 2023. Sendo que os hoteleiros da Área Metropolitana de Lisboa e do Norte “esperam um primeiro trimestre pior ou igual, mas o resto do ano igual ou melhor” em termos de preços. Já o Alentejo “espera um 2024 melhor que 2023 em todos os trimestres” do ano e a Madeira, Algarve e Centro “aguardam 2024 igual ou melhor”.
E o mesmo é esperado com as taxas de ocupação, com a maioria dos inquiridos, entre 43% e 54%, a antecipar uma taxa de ocupação em 2024 “pelo menos igual ou melhor que a de 2023”, refere ainda o inquérito.
À boleia da subida de preços, também a maioria dos inquiridos, entre 59% e 73%, antecipa encaixar “melhores” receitas em 2024 do que em 2023, sobretudo nos que operam nas regiões da Madeira e do Algarve.
Quanto aos mercados, os hoteleiros inquiridos acreditam que em 2024 vão receber menos turistas portugueses que deverão ficar em 74% do total de hóspedes, descendo dois pontos percentuais face a 2023. Entre os turistas estrangeiros, destaca-se o Reino Unido com 48%, e os turistas americanos vão continuar a crescer, estando previsto que atinjam os 42%, acima de Espanha com 41% do total de hóspedes.
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