BRANDS' ECO 1 ano de Clube Produtores Florestais Navigator: O que mudou?

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  • 27 Novembro 2024

No dia em que comemorou 1 ano da sua criação, o Clube Produtores Florestais Navigator reuniu membros para debaterem sobre a gestão ativa da floresta e a problemática dos incêndios.

O Clube Produtores Florestais Navigator celebrou o 1º aniversário no dia 21 de novembro, na Agrovouga, no Parque de Feiras e Exposições de Aveiro. Produtores florestais, especialistas, autoridades locais e nacionais e stakeholders de toda a cadeia de valor reuniram-se neste evento para debater e refletir sobre temas tão importantes como a prevenção de incêndios e o futuro da floresta.

Paulo Santos, coordenador do Clube Produtores Florestais Navigator, abriu a sessão relembrando os cinco objetivos que foram mencionados, há um ano atrás, quando apresentaram o Clube: “Quando começamos, dissemos que tínhamos cinco objetivos fundamentais – atuar em escala, custos eficientes, capacitar parceiros, maior produtividade, dinamizar relações. Todos eles assentes em três pilares – mais proximidade, mais investimento e mais compromisso. Conseguimos e mantivemos isto, o que nos permitiu ter uma representatividade de norte a sul do país“.

Atualmente com 344 membros inscritos, 481 milhões de euros de volume de negócios e 2447 colaboradores, o Clube Produtores Florestais Navigator tem trabalhado, de acordo com Paulo Santos, “numa lógica de escala muito focada em levar benefícios, valor, custos eficientes e, ao mesmo tempo, pensando muito no tema da modernização e na capacitação de membros”. Ao longo do último ano, o Clube conseguiu, inclusivamente, apresentar mais de 15 benefícios para todos os seus membros, entre os quais se destacam: o protocolo com a Galp, o protocolo com o Crédito Agrícola, o apoio ao investimento, o protocolo Interprev, e a parceria com corretoras de seguros.

O impacto dos apoios nos membros do Clube

Os benefícios disponíveis já têm sido utilizados por vários membros do Clube, que deram o seu testemunho durante o evento. Um deles foi Armindo Pais, da empresa Armindo Pereira e Pais, que usou o protocolo do Crédito Agrícola, disponibilizado pela Navigator, para recorrer à ajuda deste banco numa altura em que teve de fazer um pagamento inesperado de um investimento em apenas dois dias.

“Surgiu um investimento com alguma dimensão e tratava-se de algo que, por ser inesperado, tinha de ser resolvido em dois dias. Cheguei ao Crédito Agrícola e expus a situação. Nem sequer tinha uma conta bancária no Crédito Agrícola, mas receberam-me de braços abertos e passados dois dias consegui fazer os pagamentos, tudo atempadamente“, revelou.

Por sua vez, José Gomes, da Adão Ferreira Gomes, também membro do Clube Produtores Florestais Navigator, partilhou que recorreu ao apoio da Navigator para conseguir fazer aquisição de equipamento para a sua empresa e destacou o compromisso dos parceiros em assumirem as necessidades da sua empresa: “Conseguiram vestir a camisola da nossa empresa, acompanhar-nos e ajudar-nos com a banca, a fim de que tivéssemos umas condições melhores que, num processo normal, não seria tão vantajoso”.

A parceria com a Navigator também se mostrou muito benéfica para Jorge Sousa, da Organização Florestal Atlantis (OFA), que partilhou o projeto de Unidade de Gestão Conjunta (UGC) que lançaram com o objetivo de apresentar resultados aos desafios e dificuldades apresentados pelos proprietários florestais. “No fundo, é um projeto que pretende gerir a floresta como um todo e aumentar a escala. Na parte da gestão do eucalipto, o nosso parceiro sempre foi a Navigator, que desde cedo abraçou o projeto e tem contribuído muito para o mesmo“, disse.

O impacto dos incêndios florestais

Os incêndios são, sem dúvida, um dos maiores obstáculos à proteção da floresta e, nesse sentido, João Melo Bandeira, da Navigator, apresentou, durante o evento, o trabalho da AFOCELCA, um projeto que resulta da colaboração entre a Navigator e a Altri e que pretende combater incêndios rurais, com implementação ao nível nacional. Para isso, apresentou dados dos incêndios deste ano: “Nós tivemos um risco de incêndio muito elevado de 15 a 19 de setembro. Nesta altura, a severidade do incêndio foi das mais elevadas do século pela dificuldade dos meios de combate, o risco meteorológico bastante complicado devido aos ventos fortes e secos, e a grande quantidade de ocorrências“.

Entre as formas de redução das taxas de incidência, João Melo Bandeira referiu a gestão do eucalipto, a gestão da oportunidade e, principalmente, a possibilidade de que os meios de combate entrassem dentro das áreas florestais. “Tudo isto são soluções que permitem trazer segurança e não deixam que o fogo ande sozinho a ganhar dimensão. Por isso, temos de ter esperança de que é possível fazer melhor”, explicou.

Ainda sobre a temática dos incêndios florestais, houve espaço para uma mesa redonda que fez uma análise e visão técnica da situação em Portugal. Nesse ponto, António Loureiro e Santos, presidente da Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha, referiu os incêndios que afetaram a região de Albergaria, que causaram um prejuízo superior a 40 milhões de euros: “Este incêndio, independentemente dos meios, seria muito difícil de ser combatido. Quanto mais os bombeiros estão retidos na proteção das pessoas e bens, claro que o fogo vai alastrando, ganhando novas projeções e alargando frentes. E um dos grandes desafios é resolver este interface entre a floresta, estruturas industriais e as habitações. Não havia bombeiros nem viaturas suficientes para este tipo de incêndios. E aqui eu sou defensor da criação de unidades locais de proteção civil. Além de que tem que haver compensação do Estado para quem faz esta gestão“, sugeriu.

Esta questão de priorizar as pessoas durante os incêndios também foi mencionada por Sérgio Gomes, da AFOCELCA: “A própria legislação diz que a prioridade dos combates são as pessoas e os seus bens. Hoje o foco são sempre as pessoas e a floresta fica para segundo plano, mas é aí que nós entramos e verificamos as nossas dificuldades no combate porque muitas vezes encontramo-nos sozinhos nesse papel“.

Ao todo, a AFOCELCA tem como objeto de proteção mais de 200 mil hectares de património e faz o planeamento e a gestão do dispositivo de proteção, que abrange mais de 400 pessoas. Tem, ainda, uma sala de operações, “que basicamente é o cérebro de todo o dispositivo”, já que é por lá que passam todas as ocorrências e onde se decide a gestão de ocorrências. “Depois, operacionalizamos três meios aéreos, cerca de 50 meios terrestres, temos representação nos 24 comandos regionais da proteção civil, o que nos permite perceber como estão as dinâmicas em termos de incêndios e o que se passa”, explicou.

“Eu nunca acreditei que fosse possível haver um incêndio desta dimensão em Aveiro porque sentia que tínhamos um nível de gestão de floresta superior ao de outras regiões, mas afinal é tudo bastante frágil e isto leva-me a uma conclusão: a gestão do minifúndio é inviável e nós todos temos de encontrar formas de passar um sinal diferente para os proprietários e para a propriedade. Temos de encontrar novos modelos de gestão que nos permitam ter investimentos com perspetivas de rentabilidade, que respondam ao cumprimento legal e à observação que a sociedade faz de nós“, acrescentou, ainda, Luís Sarabando, da Associação Florestal do Baixo Vouga.

Por sua vez, Paulo Fernandes, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, fez questão de salientar que estes incêndios eram muito previsíveis: “Hoje em dia, nós temos ferramentas. A Agência de Gestão Integrada de Fogos Rurais preparou a informação que identificava exatamente onde veio a arder e distribuiu-a às entidades. Apenas o Vale do Tejo não estava identificado porque esta região, historicamente, neste tipo de condições ou similares, não tem estas ocorrências. Podemos, por isso, melhorar a nossa capacidade de antevisão”.

Como garantir o futuro da floresta?

Depois de olhar para o passado, a importância de garantir que o futuro da floresta fica salvaguardado torna-se crucial e, por essa razão, a segunda mesa redonda do evento foi dedicada a essa temática. Carlos Lobo, da Lobo, Carmona & Associados, começou por dizer que, “em termos jurídicos, há uma falha regulatória”. E justificou: “Nós somos o único país da União Europeia que não conhece o seu território, ou seja, continuamos a não ter cadastro. Se nós não tivermos cadastro, o Estado não conhece o território. Por isso é que sempre que tentamos impor sistemas de tributação excessiva, de multas, de penalizações, pela falta de limpeza da floresta, nunca somos capazes porque, na prática e na realidade, só seria multado aquele que é suscetível de ser identificado e isso é injusto“.

“O Estado falhou no cadastro, falhou em toda a metodologia relacionada com políticas de solução económica e de quase promoção de abandono de território”, continuou, referindo-se à carta de perigosidade de incêndio que, na sua perspetiva, faz com que Portugal seja o único país do mundo onde, quando há um risco, em vez de o eliminar, apenas há uma preocupação com proteger-se do mesmo.

Também Francisco Gomes da Silva, da Agroges, apontou uma diferente atuação do Estado como solucionador de vários problemas: “A floresta em Portugal está num ponto em que aquilo que normalmente ajustaria as ocupações do território e as formas de exploração, nomeadamente o mercado e as políticas públicas, não estão em condições de funcionar porque o sistema atingiu um desequilíbrio tal que precisa de uma intervenção de emergência. E, de facto, a única entidade que pode e deve fazer alguma coisa é o Estado“.

“Eu acho que chegamos a um ponto em que as lógicas colaborativas espontâneas e de livre vontade não vão resolver nada e tem de haver uma intervenção que passe por identificar os agentes que estão no território com capacidade de intervenção, fazer um contrato programa, com objetivos bem definidos, apoiá-los na sua capacitação e fazer. Tudo isto com os apoios das autarquias porque são quem está mais próximo dos proprietários”, disse.

Ao contrário dos colegas de painel, Jorge Loureiro, da Unimadeiras, considera que o Estado tem de sair desta equação para que as coisas funcionem e deu o exemplo da Unimadeiras para demonstrar o seu ponto de vista: “A Unimadeiras nasceu há 50 anos, fomos crescendo e hoje temos 617 acionistas e cerca de 2 mil produtores florestais. Em 2008, criamos o grupo de gestão florestal, com cerca de 53 membros e com 778 hectares, e acho que passa por aí o sucesso da floresta portuguesa. Hoje somos 2200 produtores florestais no grupo e temos uma área de 40 mil hectares. E o que está a acelerar isto é a Navigator e outros. Por isso, nós queremos é que o Estado não faça mais nada, não faça mais nenhuma lei, porque só vem complicar o que está a correr bem“.

A fechar a sessão, João Lé, administrador The Navigator Company, relembrou que a ideia de trazer o tema dos incêndios para este evento não foi para torná-lo “uma cerimónia fúnebre”, mas sim para se perceber “as aprendizagens que temos de retirar do que aconteceu” e a forma como “todos se devem preparar para este tipo de situações, com quem têm de falar e envolver para que isto não volte a acontecer”.

O papel da gestão é de facto decisivo. Ainda temos aqui uma margem de progressão grande até aprofundarmos tudo isto e conseguirmos que os benefícios disponibilizados possam ser maximizados e que os parceiros que trouxermos para aqui sejam contribuintes líquidos desses ganhos de eficiência para todos nós. Para 2025, o nosso objetivo principal não é estar a desenvolver muitos mais benefícios, mas sim consolidar aqueles que temos para que vocês possam tirar verdadeiro proveito desses benefícios nas vossas atividades”, concluiu.

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